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Por que os brasileiros estão se voltando para stablecoins como Tether

Em meio à alta inflação e à constante desvalorização do real brasileiro, os comerciantes locais triplicaram o volume negociado de stablecoins em 2021.

Brazilian flag (Mateus Campos Felipe/Unsplash)
Brazilians have almost tripled the use of stablecoins in 2021 (Mateus Campos Felipe/Unsplash)

Em meio à inflação recorde e à constante desvalorização da moeda local, os brasileiros estão recorrendo às criptomoedas e, em especial,moedas estáveiscomo nunca antes.

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Segundo a Receita Federal, a autoridade tributária brasileira, entre janeiro e novembro de 2021, os moradores locais negociaram US$ 11,4 bilhões em stablecoins e quase triplicaram o total negociado em 2020. As stablecoins também negociaram US$ 10,8 bilhões em Bitcoin no ano passado.

O boom das stablecoins no Brasil remonta pelo menos a 2020, quando diferentes exchanges de Cripto começaram a perceber que O número de traders brasileiros de stablecoins quadruplicou.

A inflação crescente é um dos fatores que impulsionaram o fenômeno das compras de stablecoin. Em 2021, a taxa de inflação do país foi de 10,06%, o maior nível desde 2015 e o quarto maior após a implementação do real brasileiro (BRL), em 1994.

Ao adquirir stablecoins, alguns brasileiros também queriam se proteger contra a desvalorização constante do real em relação ao dólar americano, que elevou o real de US$ 0,25 em janeiro de 2020 para US$ 0,18 neste mês.

“Stablecoins valem a pena como diversificação, então você não fica exposto somente ao real. Com o dólar americano convencional, você não tem rendimento e tem impostos”, disse Murilo, um programador brasileiro de 34 anos, ao CoinDesk.

Ao adquirir moeda estrangeira, o brasileiro é obrigado a pagarum imposto sobre operações financeiras– IOF é a sigla em português – que varia entre 1,1% e 6,38%. O imposto não se aplica a stablecoins.

“Eu compro pelo meu smartphone e T preciso me preocupar tanto em me registrar [nas casas de câmbio]. É muito mais fácil”, disse Maria, uma aposentada de 65 anos.

Adilson, um empreendedor de 45 anos, mencionou que o dólar americano fornece liquidez, mas o processo para adquirir a moeda é lento e burocrático. “Com uma stablecoin, agora consigo movimentar meu dinheiro com menos burocracia e muito mais agilidade”, disse ele.

O Banco Central do Brasil proíbe os moradores locais de guardar dólares americanos em uma conta bancária local. No entanto, em dezembro de 2021, a autoridade monetária aboliu essa proibição ao aprovarum novo quadro de taxa de câmbio, que ainda não foi implementado.

Segundo a Receita Federal, o Tether (USDT) é a stablecoin preferida dos brasileiros, respondendo por US$ 9,7 bilhões adquiridos entre janeiro e novembro de 2021. Outras stablecoins compradas incluem US$ 1,6 bilhão em USDC, US$ 12,9 milhões em DAI e US$ 5,6 milhões em TrueUSD (TUSD)

A prevalência do USDT no Brasil contrasta com outros países latino-americanos, como como a Argentina, onde o DAI da Maker se tornou uma das principais stablecoins.

Taxas tradicionais baixas

O Brasil tem um mercado de ações maduro,com 4,97 milhões de contas individuais na bolsa de valores brasileira, a B3. No entanto, diante da queda das taxas, as stablecoins ganharam força entre os moradores locais.

“Acho interessante o uso de stablecoins em protocolos DeFi [ Finanças descentralizadas] como Curve e Anchor. Obtém- ONE um retorno geral de 15% a 20% em dólares americanos ao longo do ano. Melhor do que renda fixa no Brasil”, disse Murilo ao CoinDesk.

Os retornos dos investimentos em renda fixa eram historicamente altos no Brasil, mas despencaram em meio ao declínio da taxa PRIME da economia brasileira. O Banco Central do Brasil alterou sua taxa de jurosde 14,25% em 2016 para 7% um ano depois e para 2% em janeiro de 2021. Para combater a inflação e acalmar a desvalorização do real, a autoridade monetária elevou gradativamente a taxa até os atuais 9,25%.

Por sua vez, o Índice Bovespa, que reúne mais de 80 ações listadas na B3,registrou queda de 11,92% em 2021.

A queda das taxas de juros dos ativos tradicionais contrasta com o fortalecimento das exchanges de Cripto no Brasil. O Mercado Bitcoin, maior exchange de Cripto do país, atingiu 3,2 milhões de clientes em 2021 e triplicou sua base de clientes em comparação a 2020, disse a empresa ao CoinDesk em um comunicado por escrito.

O Mercado Bitcoin também atingiu um volume recorde de negociação de US$ 7,13 bilhões. “É mais do que nosso volume em todos os anos anteriores combinados desde que lançamos em 2013”, disse Gustavo Zeno, CFO do 2TM Group, holding do Mercado Bitcoin, à CoinDesk.

Em novembro de 2020, a Binance habilitou a compra de Cripto usando reais brasileiros, disse a empresa ao CoinDesk em um comunicado por escrito, acrescentando que em 2021 o número de usuários ativos cresceu 125%.

Em nível regional, diversas bolsas latino-americanas fortaleceram sua presença no mercado brasileiro.

Em janeiro de 2021,A Ripio da Argentina adquiriu a BitcoinTrade, a segunda maior bolsa de Cripto do Brasil, enquanto a bolsa de Cripto Bitso, sediada no México, reforçou sua seleção brasileira e planeja se tornar a maior bolsa do país em 2022, disse o vice-presidente de marketing da Bitso, José Molina, ao CoinDesk.

Este artigo foi traduzido por Fernanda Ezabella e Editado por CoinDesk. O original em português pode ser encontrado aqui.

Paulo Alves

Paulo Alves é editor de Cripto na InfoMoney, uma publicação líder em notícias financeiras no Brasil. Seu trabalho foi destaque na CNN Brasil, TechTudo e BeInCrypto Brasil, entre outras mídias. Ele se formou em Jornalismo pela Universidade da Amazônia e é formado em Comunicação Digital pela Universidade de São Paulo.

Paulo Alves